Dos muitos lugares que eu queria conhecer na Europa, a Irlanda do Norte certamente era um deles. Mas confesso que na hora de comprar a passagem fiquei com uma tremenda duvida.. Será que devo mesmo me aventurar por esse país?
Eu sei que pode até parecer exagero ou até falta de conhecimento, mas fato é que é impossível pensar em Irlanda do Norte sem lembrar dos muitos atentados assumidos pelo IRA.
Antes de começarmos o tour político, eu pedi pro guia pra conhecer o Stormont, que é sede do Parlamento da Irlanda do Norte. Como esperado, não dava pra visitar internamente, mas o guardinha deixou nos entrarmos ali só pra dar uma voltinha.
Mas o que tem mesmo atraído muitos turistas ultimamente ao país, além das suas belezas naturais na costa norte, são os tours políticos. O fanatismo dos católicos e protestantes irlandeses que lá vivem, tanto pela sua cultura, sua identidade, como pela religião e politica já vem de tempos.
E nesse “tour político” podemos ver justamente um pouco disso tudo, que muitas vezes impressiona e muitas outras vezes dá medo. Pra quem acha que só Berlim teve o seu muro de separação, Belfast também tem o seu. E a unica “diferença” entre eles, é que muro em Belfast ainda está lá, todinho em pé, separando os católicos dos protestantes. Mas a rixa entre eles não engloba somente a religião, existem outros fatores como os sociais, políticos e econômicos.
E essa história é antiiiiiga. Tudo começou durante o século 13, onde o Rei Henrique II teve a brilhante ideia de anexar a Ilha da Irlanda (como um todo) ao Reino Unido. Os Irlandeses não gostaram nada dessa história e lutaram bravamente durante muito tempo. Mas a ideia que o Rei tinha era a de que tanto Escoceses, Ingleses e Galeses fossem atraídos através de boas ofertas de trabalho e povoassem a ilha vizinha.
Mas o Rei esqueceu que os Irlandeses eram católicos e ao promover essa migração, o britânicos que pra lá resolvessem ir, seriam maioria protestantes. Esse não era ainda o grande problema, o maior problema viria algum tempo depois, com o desenvolvimento e industrialização da Irlanda do Norte, enquanto a região onde fica a Irlanda ainda estava essencialmente agrícola, sem progressos. Assim, os ânimos entre as duas regiões Irlanda do Norte (maioria protestante) e Irlanda (maioria católica) estavam ficando cada vez mais tensas.
Depois de um intenso confronto entre as duas regiões, chegou-se a conclusão que seria melhor separar a ilha, de um lado a Irlanda do Norte, que ainda continuaria fazendo parte do Reino Unido mas de forma autônoma com o seu próprio parlamento, enquanto que a Irlanda, seria um país independente.
O número de protestantes que vieram da Grã-Bretanha, através do incentivo do governo, se tornaram maioria na região onde hoje é a Irlanda do Norte, e isso fez com que as lutas entre os católicos e nacionalistas (IRA) contra os protestantes e unionistas continuasse por alguns anos.
Tudo iniciava com manifestos nas ruas onde os católicos, insatisfeitos, queriam mais direitos, e por fim, terminavam se confrontando com os protestantes. E esses confrontos eram tão violentos, que além de muitas pessoas feriadas, começaram a ficar bem frequentes as mortes também.
E os murais que vemos ao longo do muro, retratam justamente essa raiva, revolta e indignação de um lado e que era revidado pelo outro lado. Além do muro, algumas (muitas) casas também tem pinturas em suas paredes retratando um pouco dos conflitos.
Depois dessa breve explicação pra eu me situar um pouco sobre a história de mais de 40 anos dos “Troubles” o guia me disse que passariamos pela Shankill Road onde fica a maior concentração de protestantes, mas que começariamos o tour pelo Solidarity Wall, seguindo para a Fall Road, reduto dos católicos.
Chegando lá, ao ver aquele muro, não muito alto naquela parte, mas que tinha ainda mais as cercas no alto, fiquei impressionada que ele realmente ainda existia! Essa parte do muro em particular, estavam alguns murais onde era possivel ver que outras regiões do planeta eram solidárias a essa causa, ou seja, estavam passando pela mesma situação, como os Bascos na Espanha, por exemplo.
Conforme fomos entrando naquela região, é impossível não ficar inconformada com os conflitos e mortes que aconteceram ali, e muitas coisas que o guia ia contando, eu ficava me perguntando: “pq tudo isso?”. É dificil pra nós brasileiros, que nunca passamos por isso, entender esse tipo de coisa, não é mesmo?
Conforme a gente vai percorrendo as ruas, dá pra perceber que o muro não é em linha reta e muito menos é apenas um pedacinho de muro que ficou ali pra contar história. O muro,acreditem ou não, é chamado de “Peace Line” e realmente é enoooorme (mais de 27 km de comprimento), são muitos e muitos quilomentros, em algumas partes existem portões que permitem o transito durante o dia, mas que a noite são fechado para evitar maiores problemas. E como se não bastasse o muro por si só pra lembrar de toda a desgraça que aconteceu por ali, ainda tem alguns memoriais que vemos ao longo do caminho, muito triste!
Ainda no lado católico, nossa próxima parada foi em frente a um dos murais mais importantes para os católicos irlandeses, o que homenageia Bobby Sands, um voluntário do IRA e membro do parlamento britânico que morreu durante uma greve de fome na prisão. Ele buscava a reintegração da Irlanda do Norte a Ilha da Irlanda. Essa foi uma das histórias mais turbulentas e comoventes que o guia me contou.
Atravessamos um dos muitos portões e fomos parar no lado protestante de Belfast. Ali, o guia me disse pra não sair tirando foto de tudo como uma louca, e quando eu quisesse tirar uma foto era pra perguntar pra ele antes. Ok! Na duvida, eu é que não ia me arriscar por causa de uma foto, né?
A gente desceu do táxi e começamos a caminhar pelo bairro, que além dos murais, ainda tinha muitas casas pintadas com cenas que lembravam os conflitos, como por exemplo, a parede dessa casa onde Oliver Cromwell fala contra a Igreja Católica…
Existem muitos murais como esse que fazem referencia a Associação de Defesa do Ulster (outro forma que a Irlanda do Norte é chamada, em referencia a região formada pelos 6 condados que foram o país atualmente)..
Em outra casa, o desenho na parede retrata o acordo de paz estabelecido através do Acordo da Sexta-feira Santa, onde no lado protestante, nessa pintura tem a imagem de uma Igreja Católica, e que obviamente, ao nos virarmos em direção ao lado católico vemos as suas torres de longe. Esses são os primeiros sinais de que eles realmente estavam dispostos a “mudar”!!
Existem duas formas de fazer esse tour, a pé ou de táxi. Se resolver encarar a pé tem mapas pela internet que mostram o melhor caminho a perseguir para poder ver em toda a extensão do muro as varias pinturas que contam um pouco da história de conflito vivido no país a algumas décadas atrás.
Pra mim, a melhor opção foi reservar um tour de táxi. Esses táxis não são táxis normais que simplesmente pegamos na rua. São empresas especializadas, que pra deixar o tour mais atrativo, usam um típico táxi inglês durante o passeio. Eu reservei com a empresa Belfast City Tours e quanto ao valor, depende muito de quantas pessoas são, até 2 pessoas 10,00 libras e de 3 a 5 pessoas, fica um pouco mais barato, mas não lembro ao certo quanto era. No total o tour dura um pouco menos de 2 horas.
O tour com essa empresa é ótimo, e o guia deu uma verdadeira aula de história (e ainda bem que ele falava bem devagar, assim consegui entender muito bem hehehe)! Uma vez em Belfast, esse tour não pode ficar de fora do roteiro. Recomendadíssimo!
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muito boa a historia… interessante saber esses detalhes históricos né…
Nossa, eu adorei a Irlanda do Norte, sou suspeita pra falar qualquer coisa de lá.
E quanto a história, apesar de triste, é bem interessante sim.
=)
Olá obrigado pelas dicas, muito interessante!
Estou indo ficar 1 ano em Belfast!
Irei estudar na Queen’s University of Belfast
Oi Denis,
Legal, hein!?! Belfast é uma cidade interessantissima e surpreendente. Eu gostei demais de lá! :))
ola….gostei muito do seu post…vc fala sobre a guia…poderia me indicar uma guia brasileira em Belfast…passarei com o navio …se puder me ajudar abraco
Oi, Mariangela
Não conheço nenhuma guia brasileira em Belfast. O guia que falo no texto era britânico.
Quando você contratou o Political Tour, a agência a pegou no aeroporto. Foi um tour privativo? A Easyjet tá com um preço de passagens para um fim de semana.
Oi, Diogenes
Sim, fiz o tour sozinha e ele me buscou no aeroporto. Na época, paguei 10,00 libras mais ou menos pelo tour, além de uma taxa pra ele me pegar no aeroporto e fazer as paradas extras que eu quis fazer pelo caminho.